Estava sentada na proa de um navio, era viagem de final de ano: um cruzeiro com a familia.Havia acabado de receber a carta de aprovação no vestibular de Harvard, se tornaria advogada.Realizou o sonho do seu pai, não o seu. Nunca teve escolha na vida. Sua vida, antes mesmo de nascer já tinha sido traçado pelos seus pais.
Da proa do navio olhou o seu próprio reflexo no mar, via uma menina sonhadora, apaixonada e livre. Ela não era assim, apenas queria ser. Liberdade, paixão e sonhos, eram luxos que nunca lhe foram permitidos pelos pais. Estava lá com aquele vento frio no rosto tentando tomar coragem para dizer que não queria aquilo pra si. Queria ficar no Brasil, com a familia, amigos. Sabia que não seria ouvida.
Novamente olhou para o seu reflexo no mar. Aquela era ela, mas aquela tremula pelas ondas do mar, parecia ser livre, parecia poder sonhar.Olhou novamente para o céu. Estava cansada da vida que levava. Não sentia amor, não amava, não era amada. Não era feliz. Seu reflexo no mar parecia ser.
Levantou-se da proa do navio e olhou novamente o reflexo, era aquilo que queria ser. Olhou para o céu estrelado e se jogou em direção ao mar. Queria encontrar de perto aquela, que era ela, mas que era tudo que ela não podia ser.
Nota do jornal no dia seguinte:
Jovem de 17 anos, filha de importante advogado de São Paulo, se suicida em navio onde fazia um cruzeiro com a familia. Parentes e amigos procuram ainda entender o porquê, a jovem tinha um futuro brilhante pela frente (...)
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Mas sinceramente, acho que ninguém realmente se importou.
Pauta nostalgica para a edição visual do Bloínquês. Sempre escrevo textos de suícidio assim, mas não se preocupem comigo, não me matarei. Beijos ;*
UPDATE: 1º lugar na edição visual *------*